Proprietária do Mandioca, Madu Melo traz cozinha brasileira e cheia de afeto
“Eu não tive um ‘começo’ [na gastronomia]. Ela está presente na minha vida desde que eu me lembro”. Madu Melo sempre viu na culinária uma forma de conectar povos e culturas. Aprendeu a cozinhar aos poucos, principalmente por momentos e experiências da vida. “Desde família até pessoas que conheci nas minhas 34 viagens ao redor do mundo. Elas me mostraram a gastronomia de casa, cheia de afeto e com referências de suas famílias”, conta.
Mesmo assim, seguir na gastronomia profissional não estava em seus planos. Simplesmente aconteceu, de forma natural e espontânea. Ela estava em um período sabático quando – quase como em uma epifania – percebeu que queria ajudar os brasileiros a valorizarem mais a cultura local. “Já que para mim comida e cultura sempre tiveram uma conexão, foi um processo fácil entender que eu deveria ter um restaurante”.
Para se especializar, ela fez cursos de gestão de bares e restaurantes e de formação básica em gastronomia no Senac Aclimação. Além disso, fez também um curso no Instituto Wilma Kovesi. “Mas sempre gostei muito de ler livros técnicos de gastronomia. Sempre busquei conhecer desde os restaurantes listados no 50 Best até às comidas de rua”. Afinal, uma das peças-chave para se dar bem na gastronomia é ter diversas referências e base de conhecimento.
Há cerca de dois anos, Madu inaugurou o restaurante Mandioca, em São Paulo. O grande objetivo é, sobretudo, “mostrar a gastronomia brasileira de verdade, de origem, tendo não só a mandioca – que é um insumo nosso – como também a herança indígena como a estrela principal da nossa cultura , sempre buscando valorizar os produtos locais”. Essa é a principal bandeira gastronômica defendida por ela. Além disso, a chef trabalha também com bandeiras de igualdade, do não preconceito e da gestão horizontal.
“O Brasil está caminhando no que se diz respeito à valorização da gastronomia nacional”. Contudo, em comparação a outros países, damos passos lentos e pequenos, com pouca valorização de seus produtos, produtores e histórias. “Aqui, geralmente emprega-se uma cozinha nacional, mas repleta de técnicas e insumos de outros países, sem uma pesquisa do que é genuinamente brasileiro. Mas isso não significa que devamos esquecer as referências mundiais”. Pelo contrário, os ensinamentos estrangeiros são muito importantes para desenvolver a cultura e gastronomia. “Entretanto, o Brasil vai muito mais além do que as referências. Geralmente a nossa cozinha é tratada com extrema superficialidade”, pontua.
Madu explica que no Brasil, embora existam muitas riquezas naturais, históricas e culturais, temos uma prática de uso de técnicas e nomenclaturas do exterior. Por isso, a chef admira o trabalho de pessoas como Isadora Fornari, Ana Luiza Trajano, Roberta Sudbrack, Janaína Rueda, Tainá Marajoara e muitas outras. “Que fazem um trabalho honesto, de respeito ao funcionário, ao produtor, transparência na fala, independente do tipo de cozinha que se pratica”.
Com essas referências, Madu desenvolve seus pratos principalmente com muita pesquisa e resgate de sabores. “É um processo natural e extremamente prazeroso, que fui com rapidez depois das imersões de estudo”. E o resultado é, certamente, excepcional. Entre todas as delícias, os pratos com uma pegada nordestina são os grandes sucessos do Mandioca. Além, é claro, da famosa caranguejada e do especial de Círio de Nazaré, que acontece em outubro.
Atualizado em 06 de fevereiro de 2021: o Mandioca Cozinha anunciou o encerramento das operações por causa dos efeitos da pandemia. “Desde que reabrimos ao público, em agosto [de 2020], o faturamento do salão com o delivery não passou de 35% do que costumava ser antes da quarentena”, lamentou a chef e proprietária Madu Melo.
Madu no Instagram: @madumelo
Mandioca no Instagram: @mandioca.cozinha
Foto destaque: Divulgação/Mandioca
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