Mãe e filha criam negócio de comida saudável e empregam mulheres imigrantes

Mãe e filha criam negócio de comida saudável e empregam mulheres imigrantes
Divulgação

A Free Soul Food quer facilitar a vida de quem tem algum tipo de restrição alimentar. Fundada em 2016 por Maíra da Costa e sua mãe, Janete, a empresa produz comidas saudáveis com ingredientes frescos e livres de conservantes, que atendam às pessoas veganas, vegetarianas, diabéticas e intolerantes a glúten ou lactose.

O negócio começou com cerca de 1.250 clientes – número que dobrou no segundo ano de operações e triplicou no terceiro. Desde então, a empresa já realizou mais de 10 mil atendimentos, que juntos movimentaram em torno de R$ 1 milhão, e tem capacidade para fazer 100 refeições diárias na cidade de São Paulo, onde está sediada.

O projeto nasceu como um delivery, mas desde 2019 é especializado em buffet para eventos corporativos. O cardápio inclui quiches e massas sem glúten, saladas, doces saudáveis, pães artesanais sem lactose e refeições balanceadas.

Impacto social

Em 2018 e 2019, a Free Soul Food recebeu o Selo Municipal de Direitos Humanos e Diversidade da cidade de São Paulo por seus trabalhos com a população migrantes, negra e feminina. O selo reconhece boas práticas de gestão da diversidade e promoção dos direitos humanos em empresas, órgãos públicos e organizações do terceiro setor.

“Começamos a pensar formas de gerar mais impacto na sociedade”, diz Maíra, que além de cofundadora é diretora executiva da empresa. A companhia emprega mulheres imigrantes, a maioria negras, vindas de vários lugares do mundo, como Haiti, Angola e Venezuela. Assim, as funcionárias ganham oportunidade de trabalho e, do outro lado, Maíra e sua mãe aumentam o repertório culinário e cultural de outros países, principalmente da África e América Latina.

Os ingredientes são adquiridos de pequenas produtoras para apoiar outras mulheres empreendedoras. Além disso, para minimizar o impacto socioambiental, a empresa fornece talheres e madeira e alimentos em embalagens biodegradáveis.

As iniciativas chamaram a atenção de grandes empresas. Em 2019, a Free Soul recebeu uma menção honrosa no programa de formação online Empreender com Impacto, do Mercado Livre em parceria com a ONG Mayma Humanidade Empreendedora e a Giral Viveiro de Projetos. O negócio foi selecionado entre sete semifinalistas e 270 histórias do Brasil, Argentina, Chile, Colômbia, México e Uruguai.

6 funcionárias da Free Soul Food. Todas são negras e estão de máscara para proteger contra a Covid-19.
Gabriela Del Carmen | Mulheres na Gastronomia A Free Soul emprega mulheres imigrantes, a maioria negras, vindas do Haiti, Angola e Venezuela

Como começou

A história da Free Soul Food começa em 2012, quando Maíra da Costa se descobriu intelerante à lactose. 

“Desenvolvi uma relação muito complexa com a comida”, relembra. “Toda vez que sentia fome, principalmente fora de casa, ficava com muito medo, porque era comum as pessoas falarem que o alimento não tinha leite, quando na verdade tinha, e eu passava muito mal.”

A solução foi fazer e levar a própria marmita para todos os lugares. Embora não tivesse experiência profissional, nem a pretenção de trabalhar com gastronomia, Maíra conta que sempre gostou de cozinhar e aprender novas receitas.

Naquela época, ela morava na Itália por causa do trabalho com auditoria de gráficas. No país berço do movimento slow food, as pessoas associavam cada vez mais a qualidade dos alimentos à qualidade de vida, buscando também adotar práticas sustentáveis em toda a cadeia. Foi quando Maíra começou a se interessar ainda mais por culinária e nutrição.

“Os italianos valorizam muito esse universo. Comecei a pensar sobre qualidade e procedência do alimento, produtos orgânicos e quilômetro zero, [quando se produz tudo numa determinada região, privilegiando o local e levando em conta todas as questões do meio ambiente]”, diz Maíra.

Mesmo longe de casa, ela mantinha uma relação próxima com a mãe. Marcavam de se ligar quando Janete estava fazendo o almoço e Maíra, o jantar. “Já tínhamos o costume de cozinhar juntas. Era a hora que tínhamos para falar sobre o dia.”

Em uma dessas conversas, Janete, já aposentada, contou para a filha que queria comprar um restaurante. “Falei ‘lá vem minha mãe com mais uma ideia de girico’”, brinca Maíra. A filha começou a procurar informações sobre o mercado para convencer a mãe a não levar a ideia adiante.

Mas Maíra se surpreendeu. “Fiz as pesquisas e percebi que havia muita demanda por alimentos para pessoas com restrições alimentares. Mas poucos negócios atendiam a esse público”, diz, acrescentando que estar na Itália e viver diariamente os conceitos de slow food também a inspiraram investir na empreitada.

Também tinha a questão da própria saúde e estilo de vida. Além de Maíra ser intolerante à lactose, Janete é vegana e diabética. “Já sabia que a comida era importante para a saúde, mas isso começou a ter um peso ainda maior. Percebi o quanto ter uma restrição alimentar define a sua a vida e como era difícil encontrar lugares que atendessem às minhas necessidades.”

Voltou para o Brasil no final de 2015 e, para lançar o negócio, fez uma série de cursos do Sebrae-SP. Um deles foi o Receita de Sucesso, que ensina estratégias e técnicas sobre a elaboração, o planejamento e a atratividade dos cardápios. Além disso, as aulas abordam o fluxo de trabalho e os controles necessários para o monitoramento da gestão operacional na produção e manipulação de comidas.

Com R$ 50 mil de investimento inicial, as empreendedoras compraram o espaço de um restaurante que estava à venda na zona norte da capital paulista. Os próximos planos da Free Soul são expandir as operações para outros estados brasileiros e seguir com os projetos de inclusão social.


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