Saúde e Prazer
Especializada em Nutrição Comportamental, Luiza Mattar mostra que unir gastronomia e nutrição pode trazer benefícios para o corpo, alma e mente
Hoje em dia parece que o mundo inteiro anda falando da importância de uma alimentação saudável. A gente ouve de lá, ouve de cá, de amigos, parentes, médicos, vizinhos, conhecidos e até mesmo desconhecidos. Mas você já parou para pensar que raios seria uma alimentação saudável!? Muito mais do que analisar o que se come – seja um macarrão, uma salada, feijão ou brigadeiro – o comer bem envolve também a quantidade em que se come, como se come, por que se come e como se sente após comer.
Se vivemos no mesmo planeta, você com certeza já sentiu-se, em algum momento da vida, angustiada com o seu corpo. Não pode ser gorda demais. Mas também não pode ser magra demais. Mas não adianta só ter peso ideal. Exigem um quadril perfeito, o abdominal travado e adequar-se a mais um conjunto incontável de pressões estéticas que nenhuma dieta milagrosa é capaz de conquistar. E é aí em que entra a importância de aliar as áreas da gastronomia e da nutrição, mostrando que unir o sabor e a saúde não é uma tarefa impossível.
Ana Luiza Mattar é Nutricionista Comportamental especializada em pediatria e transtornos alimentares. Entrou na faculdade buscando combinar o seu gosto natural e intuitivo por comer saudável com o seu interesse pelo corpo humano. Porém, seu primeiro contato com o curso de nutrição não foi dos mais agradáveis. “Muito que a gente aprende na faculdade é centrado em dieta – pelo menos quando eu fiz faculdade era assim. Eu achava muito estranho uma pessoa de fora vir me falar o que tem que comer, o que não tem que comer. Essa questão de fazer uma dieta, ajudar alguém a perder 5 kg por um final de semana, sempre foi algo esquisito para mim, não era algo que eu queria”, conta.
Questionada sobre a relação entre o fazer dietas e o desenvolvimento de transtornos alimentares, Luiza considera que nem toda dieta leva a um transtorno alimentar, mas que todo transtorno alimentar começou com uma dieta. “As pessoas começam querendo emagrecer, querendo ter aquele corpo ‘perfeito’ – que não existe – aí começam a cortar um pouco de carboidrato, depois vão pulando o jantar e quando vão ver estão tendo comportamentos completamente transtornados. A obsessão por ser saudável não é saudável”.
Luiza tinha o desejo de trabalhar uma outra relação com os alimentos, fora das dietas milagrosas mudanças radicais e comportamentos de risco à saúde. Acreditava que a base de uma alimentação saudável está no equilíbrio. Não restringir alimentos e refeições, mas também não os consumir em excesso. “Comer de tudo para poder comer tudo. Sem culpa, sem neuras e com muito prazer. Eu nunca quis emagrecer as pessoas de hoje para amanhã“.
Foi só depois de formada que entrou em contato com a Nutrição Comportamental, e encantou-se com essa abordagem que considera os aspectos emocionais, fisiológicos e sociais da alimentação. O grande objetivo é deixar de enxergar a comida como inimiga, fazendo com que, após se alimentarem, as pessoas se sintam felizes, satisfeitas e prazerosas ao invés de culpadas. Ou seja, uma verdadeira mudança da relação que temos com a comida e do nosso comportamento alimentar.
“A primeira técnica é a não-dieta. Não tem isso de eu falo e você obedece. A gente parte do princípio de que a pessoa que melhor sabe sobre o seu corpo é quem está comendo”, explica. Algumas das ferramentas utilizadas na Nutrição Comportamental são a adoção de um diário alimentar, escala de fome e saciedade, intuitive eating e mindful eating, além de entrevistas motivacionais para conversar com o paciente, psicologia e da terapia cognitiva comportamental.
Afinal, qual o papel do nutricionista na prevenção e tratamento dos transtornos alimentares?
Primeiramente, não ser a nutricionista carrasca: “diz que ele vai morrer amanhã de diabetes se não parar de comer açúcar”, assustando o paciente quase como se estivesse dando uma sentença de morte. Em segundo lugar, é importante que o profissional não cobre excessivamente resultados do paciente, com broncas e rebaixamento de sua autoestima.
Além disso, perceber os primeiros sinais de um distúrbio alimentar é fundamental. “Às vezes, a pessoa começa fazendo uma dieta e todo mundo acha que ela está sendo saudável, está emagrecendo e isso é bom. A gente precisa se atentar: quanto peso ela perdeu, quais foram as maneiras, as estratégias que ela usou para perder esse peso. Quanto mais anos de transtorno alimentar, pior o prognóstico”.
Por outro lado, o tratamento dos distúrbios envolve falar sobre comida e alimentação, em conjunto com psiquiatras e psicólogos. “O psiquiatra vai tratar as questões medicamentais – quando necessário -, o psicólogo, todas as questões emocionais e o nutricionista, todas as questões alimentares”.
A influência das emoções
Um dos grandes fatores que pode prejudicar a nossa relação com a comida é a forma que lidamos com nossas emoções particulares. Não há dúvidas de que comer para celebrar alguma conquista faz parte da nossa natureza. Não tem nada de errado em sair para jantar após uma promoção de emprego ou uma data especial. Assim como também faz parte da nossa natureza comer para nos consolarmos. Contudo, o problema começa quando a comida passa a ser a única solução que encontramos para lidar com o que estamos sentindo. “Como se qualquer coisa que eu esteja sentindo eu vou lá e coloco comida para tapar esse sentimento”. E é por isso que a Nutrição Comportamental busca, além de simplesmente abordar a comida, mas também os sentimentos de quem a consome.
O que houve com a couve?
Criado em 2015, o projeto começou a partir da vontade de trabalhar com nutrição infantil. Surgiu como um blog para chegar até as mães que levariam seus filhos às consultas, buscando melhorar a alimentação das crianças e suas relações com a comida. Porém, com o passar dos anos o nicho começou a mudar, conforme Luiza estudava sobre os transtornos alimentares e as questões comportamentais que envolvem o ato de comer.
Atualmente, com mais de 25 mil de seguidores no Instagram, ela conversa principalmente com mulheres, que comportam cerca de 93% do público do perfil. Independentemente de serem mães ou não, terem transtorno alimentar ou não, serem magras ou gordas. “Não é só gente acima do peso que não gosta do corpo, não é só gente acima do peso que come mal. Tem muita gente magra que se odeia, que não gosta do seu corpo e que, inclusive, come mal”, considera.
Acima de tudo, o importante é passar informações sobre a nutrição comportamental e educar, ajudando pessoas a transformarem a relação com a alimentação. Mostrando que unir a gastronomia com a nutrição pode trazer benefícios não só para o corpo, mas também para a mente e a alma.
Encontre no Instagram: @oquehouvecomacouve
Foto destaque: Divulgação/O Que Houve Com a Couve?
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