Em busca de um sonho
Ela esperou 30 anos para estudar gastronomia, e prova que nunca é tarde demais para correr atrás dos próprios sonhos
Rosangela Temporini teve que suspender o sonho de trabalhar com cozinha por 30 anos. Apaixonada por culinária desde a juventude, o que ela mais queria fazer ao terminar a escola era estudar para ser uma cozinheira profissional. No entanto, quando chegou a hora de começar sua carreira, ainda não havia faculdades de gastronomia onde morava, na cidade de Uberlândia (MG).
“Venho de uma família bem simples; eu não tinha condições financeiras para me mudar para São Paulo e fazer o curso que realmente queria: gastronomia”, explica. Aos 16 anos, conseguiu um emprego como secretária em um escritório de advocacia. Foi quando seu chefe, vendo seu talento e sua vontade de aprender, ofereceu pagar uma graduação em Direito para que Rosangela pudesse se formar e ter um diploma.
“Eu fiz essa faculdade porque eu precisava, mas eu nunca gostei. Na época, a faculdade de gastronomia era muito glamourosa”, relembra.
Ainda que não vivesse o dia a dia de uma cozinha profissional, Rosangela tirou o maior proveito da situação. Nos 30 anos que se passaram, ela se apaixonou, casou e teve três filhos. Nas viagens em família, embarcou em grandes experiências gastronômicas, com as quais pôde conhecer a culinária de diferentes cantos do Brasil e do mundo e, dessa forma, aprimorar ainda mais o paladar.
E o mais importante: mesmo que não trabalhasse formalmente em uma cozinha, ela nunca deixou de colocar a mão na massa. Para não perder o costume, ela fazia questão de frequentar, sempre que podia, cursos e workshops avulsos de massas e panificação. Além disso, separava um tempo para cozinhar para a família e amigos nas confraternizações e datas comemorativas.
As coisas começaram a mudar no ano passado, quando Rosangela iniciou o tão esperado curso de gastronomia. Ironicamente, enquanto o mundo ficava paralisado diante da Covid-19, Rosangela dava dois passos adiante rumo ao sonho de se tornar uma cozinheira profissional.
Hoje, na graduação do IGA Brasil (Instituto Gastronômico das Américas), ela é a mais velha da turma de colegas, e vê a experiência como uma oportunidade para inspirar outras pessoas que passam por situações semelhantes. “Eu quero poder influenciar muitas mulheres a correr atrás do que desejam, independentemente da idade. Quero ajudar pessoas na minha faixa etária a verem que ainda podemos produzir, e muito”, afirma.
No Instagram, ela compartilha dicas e receitas de cozinha, a fim de dividir seus conhecimentos e inspirar outras mulheres a mergulharem na profissão. Com uma forte memória afetiva de sua época em Minas Gerais, Rosangela cria os pratos a partir de uma releitura de gostos e sabores que já experimentou em algum momento de sua vida.
Para os próximos anos, a meta é, acima de tudo, se dedicar ao que mais gosta de fazer: cozinhar. É retomar sua verdadeira vocação e investir seu tempo naquilo que lhe dá mais prazer. Afinal, por mais que a vida corra, os sonhos não envelhecem. E, sem dúvida, deixam a vida ainda mais doce.