Sonho de infância

Sonho de infância

Ex-Masterchef Manoela Lebron compartilha sua trajetória de amor pela gastronomia

Manoela Lebron nasceu em Uberaba, Minas Gerais, e cresceu com influência da gastronomia caipira no sítio da família. Teve seus primeiros ensinamentos ainda na infância, quando ficava semanas na fazenda com a avó e todos os dias cozinhavam juntas. Encontrava na cozinha uma forma de preencher o tédio do tempo ocioso das férias. Além disso, também cozinhava para preparar as refeições quando a mãe não estava em casa: “ela é professora de inglês e sempre trabalhou até tarde. Então era um jeito de eu desenrolar o jantar quando tinha fome”.

Durante os anos em que a jovem aprendiz não tinha conhecimento de que a gastronomia podia-se tornar uma profissão ela era apenas um hobby. “O dia em que eu descobri que podia trabalhar na área tive certeza de que era a carreira que queria seguir”. Apesar de sonhar em ter um futuro na gastronomia, Lebron não recebeu apoio familiar.

Aos dezessete anos, deixou as terras mineiras e mudou-se para São Paulo, pois era uma cidade em que poderia estar mais próxima de suas aspirações. Estudou nutrição, uma vez que era o curso mais próximo da gastronomia. “Eu não gostava e de fato nunca atuei, mas fui para cumprir tabela. Até achava interessante aprender nutrição, porque tinha muita informação sobre alimentos, mas essa coisa de rotina, sentar e atender de fato não era a minha praia”, revela.

No início da faculdade, Lebron buscou estágios no ramo gastronômico, com os quais pôde desenvolver seus talentos. Sem nenhum curso de profissionalização, eventualmente aprendeu a cozinhar na prática, trabalhando, estudando e lendo por conta própria. Formou-se nutrição e, posteriormente assumiu as rédeas de sua vida, dedicando-se completamente à cozinha.

Começou no extinto buffet Rosa Rosarum, trabalhou no Pomodori, na época comandado por Jefferson Rueda e no La Risotteria, de Alessandro Sagato. Entrou para o grupo Fasano e, posteriormente, no restaurante D.O.M, do chef renomado Alex Atala, onde conheceu seu marido e atual sócio, Igor Martins.

Suas maiores dificuldades no ramo foram encarar a rotina intensa que é trabalhar em um restaurante, com jornadas de doze a quinze horas por dia. “Era uma realidade difícil, mas eu tinha tanta vontade e o meu sonho era tão grande que eu nem sentia”, declara. Ademais, a falta de conhecimento também era um desafio que eventualmente foi enfrentado. “Eu estava em um ambiente que nunca tinha entrado, não sabia saltear, os termos técnicos, usar as panelas, nada. Eu não tinha faculdade, era virgem no conhecimento”, reconhece. Entretanto, Lebron afirma sempre ter sido muito determinada e certa do que queria alcançar, sem demonstrar que a situação a enfraquecia.

Em 2013, resolveu dar um passo adiante em sua carreira. Junto com Igor Martins, inaugurou o Marinada, uma casa que tem a cozinha como o centro e o coração de tudo. “Nosso objetivo é ter mais proximidade com o cliente, trazer o conforto que a comida sempre nos trouxe, resgatar um pouco da convivência que envolve a comida, não só o ato de comer”, explica. 

Sem um menu engavetado, o Marinada é uma cozinha interativa que oferece eventos, aulas, jantares, consultorias, entre outros. O cliente pode comer a refeição que quiser do jeito que preferir, sempre recebido com aconchego e uma comida feita da forma desejada, principalmente cheia de afeto.

Em 2018, Igor a inscreveu na terceira edição do Masterchef Profissionais. Lebron conta que o que fez com que ela aceitasse participar do programa e encarar a competição foi o fato de ser uma pessoa muito movida a desafio. “Chegou uma hora na minha vida em que estava tudo igual, naquela mesmice e eu precisava de um gás, precisava sentir um frio na barriga. Não consigo viver numa rotina. Então, achei que o programa podia me trazer isso, uma adrenalina”, defende.

Ficou entre os quatro finalistas da disputa, destacando-se dentro da cozinha dos estúdios da Band, e garante: “O programa foi muito mais difícil do que eu imaginava que seria”. Os ensinamentos que adquiriu foram mais pessoais do que profissionais, de confiar mais em si mesma, ter foco, conter sua ansiedade, concentração e inteligência emocional.

A experiência contribuiu para que desenvolvesse ainda mais a sua cozinha: simples, sem complicação nem frescura, mas com técnica e espontaneidade. Acredita que sua especialidade é inegavelmente agradar as pessoas com sua comida. “Eu quero fazer o melhor que eu puder dentro do que a pessoa deseja, independente do que eu esteja fazendo, seja uma comida árabe ou um leitão a pururuca.

Como muitas mulheres, vivenciou abusos durante sua trajetória de pessoas que subestimavam o seu trabalho, mas nunca deixou que intolerância a atingisse: “Eu já sofri preconceito, mas eu rebatia, nunca engoli. Já aconteceu muito assédio e eu não sabia como reagir”. Felizmente, hoje Lebron assegura que essas situações não acontecem mais com ela, e que ganhou respeito dentro da profissão. A cozinha para as minorias continua desigual, mas o cenário é melhor do que anteriormente. 

Lebron trás como referências, além de sua avó e o chef Jefferson Rueda, pessoas mais simples, como as donas de casa que cozinham todos os dias e não são vistas, e as cozinheiras de tantos restaurantes que estão nos bastidores, fazendo a comidinha simples do dia a dia. “A relação para todos no trabalho com a gastronomia é a mesma. Não é fácil. Quem me inspira são essas pessoas simples que não são reconhecidas”, expressa.

Quando o assunto é a elaboração de novos cardápios não há dificuldades. “Para mim criar é fácil, mas aí eu não me lembro da receita”, brinca. Geralmente abre a geladeira, vê o que tem e faz alguma coisa, sem o costume de anotar. Por isso, repetir exatamente o prato feito anteriormente fica difícil, mas deixa toda a experiência mais interessante do que seguir menus robotizados e sem variedade.

A cozinha mineira sempre presente em sua trajetória ainda está em seus planos para o futuro: “Quem sabe um dia eu não abro um negócio de Quitanda. Eu adoro”. Quitanda, na culinária mineira, significa “tudo que é servido com o café”, como pão de queijo, bolos, doces de todo tipo e biscoitos. Aquela comida com sabor de infância e cheiro de vó.


Encontre:

Instagram Manoela Lebron: @chefmanoelalebron

Instagram Marinada: @casa.marinada

Localização Marinada: Rua Joaquim Nabuco, 1557, Brooklin | São Paulo, SP


Foto destaque de: Carlos Reinis/Band

Fotos dos pratos de: Manoela Lebron

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